domingo, 24 de junho de 2012

Domingos

        Ao contrário de muita gente, não acho domingo um dia chato, morno nem deprimente. Domingo para mim é o dia mais especial da semana. Não sei se é o meu favorito, mas tenho que reconhecer que é um dia que não se parece em nada com nenhum outro.
        Começando pelo óbvio: para muitos, é o único dia de descanso da semana. Para católicos, é dia de ir à missa. Para leitores de jornais, é o dia de leitura mais farta. Para as crianças, é dia de brincar na pracinha. Para muitos casais, é dia de ficar junto. Para as famílias, é dia de almoçar na casa da mãe, avó, sogra, tia. Para muitos amigos meus, é dia de ir ao cinema.
        Para quem quer um descanso da cozinha, é o dia de almoçar fora. Para quem aproveita para se organizar, é o dia de colocar em dia os telefonemas para a família e fazer faxina na caixa de e-mails. Para quem quer desacelerar, é dia de acordar mais tarde, tomar café da manhã sem pressa, caminhar em locais com bastante verde, ir à praia. Para quem tem casa de veraneio, é dia de deitar na rede, pisar na grama, reparar nas formas que vão tomando as nuvens no céu.
        Para mim, é o dia mais silencioso da semana. Calam-se as britadeiras, os ambulantes, as buzinas para chegar a tempo no trabalho, os ônibus escolares. E o silêncio é cortado poucas vezes pelos risos de crianças jogando bola no playground, pelo barulho dos talheres do almoço com a família reunida no apartamento ao lado.
        Domingo é dia de refazer as energias para a nova semana. De planejar o futuro bem próximo, o distante e o nem tão distante assim. É dia dos hobbies, do lazer, do descanso, da contemplação, da união. É o dia em que o mundo para para reunir energia para mover o mundo na semana seguinte.



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Me ensina a sentir?

        — Nina, como é que você faz esse arroz?
        — Sei lá. Normal. Como todo mundo faz.
        — Não. Seu arroz não é igual ao de ninguém. Tem um quê de diferente. Não sei explicar, mas tem.
        — Talvez seja essa "nata" de tomate por cima. Nem todo mundo faz assim, acho.
        — Eu já comi seu arroz antes. E não tinha tomate. Estava tão gostoso quanto esse. Tem algum outro segredo. E também tinha outra coisa por cima.
        — Cebola. Era cebola.
        — Hoje é tomate e da outra vez era cebola?
        — É. É uma confusão de influências, sabe?
        — Influências?
        — É. Minha avó sempre fazia com tomate por cima. A gente levantava a tampa da panela e via aquela camada de tomate por cima. Só depois de enfiar a colher é que aparecia o arroz. Era uma disputa para chegar à panela primeiro. O primeiro raspava um monte da "nata" de tomate. Era o melhor do arroz. E os outros ficavam reclamando: "Não é justo! É para enterrar a colher até o fundo da panela e puxar! Não vale raspar todo o tomate!"
        — E a cebola?
        — A cebola? Era minha mãe quem colocava. Acontecia a mesma coisa que acontecia na casa da vovó, só que a "nata" era de cebola. Na casa da mamãe, a disputa era pela cebola, sabe?
        — Hmmm. E você, como ficou?
        — Fiquei como?
        — Entre o tomate e a cebola.
        — Fiquei confusa.
        — Não tem um preferido?
        — Não.
        — Então, por que você não mistura? Deixa uma "nata" de tomate e cebola no seu arroz.
        — Não dá certo. Uma vez vi uma nutricionista falando na TV que, quando se tem um filho pequeno, deve-se dar cada alimento do prato separadamente para a criança aprender a diferenciar os sabores. Percebi que também fui acostumada assim. Preciso separar o tomate da cebola para poder sentir direitinho o sabor de cada um.
        — Me ensina a fazer esse arroz?
        — Você prefere com tomate ou cebola?
        — Tanto faz. Os dois são bons.
        — Vou te contar um segredo. Não sei cozinhar nada. Nada mesmo.
        — Como assim? E esse arroz?
        — Decorei como fazer de tanto ver. Minha avó e minha mãe, como tantas mães e avós, faziam arroz todo dia. A única coisa que faço na cozinha é esse arroz. O resto eu compro pronto para acompanhar.
        — Por que não compra tudo pronto logo de uma vez? Não é mais fácil?
        — Porque é uma receita de família. Uma não. Duas. Duas variações da mesma coisa. Herança. Da mãe e da avó. O que eu vou dizer para um filho sobre receitas de família quando ele crescer?
        — Então, me ensina a fazer o arroz. Pensando bem, você deve estar enjoada de só fazer arroz, né? Você bem que poderia me ensinar a fazer alguma outra coisa que não fosse na cozinha.
        — Que outra coisa?
        — Sei lá. Que outra coisa você sabe fazer?
        — Nada.
        — Nada?
        — Nada.
        — Desenhar? Jogar xadrez? Nadar?
        — Não sei fazer nada disso.
        — Pode ser outra coisa. Você deve saber fazer outra coisa. Qualquer coisa.
        — Não sei. Não mesmo. E a única coisa que eu sei fazer não dá para ensinar.
        — O que é?
        — Sentir.
        — Sentir?!
        — É.
        — Como assim?
        — Quando sinto um cheiro, sei dizer exatamente de que é. Pode testar com qualquer coisa.
        — Qualquer coisa mesmo?
        — Qualquer uma. Que eu conheça, é claro.
        — E o que mais você sabe sentir?
        — Sinto cada nota de uma música ressoando no meu corpo. E separo os instrumentos todos dentro da cabeça: baixo, guitarra, bateria... Já percebeu que cada pessoa dança acompanhando um dos instrumentos? Pode reparar.
        — Nunca reparei.
        — Pois é. Eu poderia ficar o dia todo falando de tudo o que eu consigo sentir com uma enorme precisão. Mas isso não serve para nada, né?
        — Claro que serve. Me ensina a sentir, então.
        — O que você quer aprender a sentir?
        — Gostei desse lance de sentir as notas e de separar o som. Quando escuto uma música, ouço apenas uma massa sonora. Não consigo separar os instrumentos na cabeça como você falou.
        — Tá. Deixa eu colocar uma música.
        — Hmmm, essa música parece ser ideal. Acho que vai ser fácil.
        — Feche os olhos, acompanhe o som mentalmente e...
        — Tô sentindo...
        — ?
        — ...cheiro de arroz queimado. Nina, você esqueceu o fogo do arroz aceso!!!!!



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sábado, 23 de junho de 2012

Curtíssima

        Aonde quer que você esteja indo, chegará mais longe se não estiver sozinho.



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Para um estado de sei lá agudo



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terça-feira, 19 de junho de 2012

Peça Não sobre rouxinóis

        "Um soco no estômago", pensei, ainda atordoada pelo impacto das cenas, como uma possível definição para a peça.
        Eu poderia dizer que o que torna essa peça ainda mais especial é o fato de ser um texto de Tennessee Williams inédito no Brasil, ou de a peça ter sido baseada em um fato real, ou de um texto escrito em 1938 ser tão atual. Isso é pouco, muito pouco, diante de um espetáculo que nos deixa de olhos arregalados e estômago apertado.
        Para mim foi impossível desgrudar os olhos do palco. Intensidade. Nos gestos violentos, nos gritos, nos corpos se contorcendo dentro da câmara de gás, na briga para respirar dentro do buraco — uma luta brutal pela vida.
        Estrangulamento. Chibatadas. Torturas incentivadas por quem comanda a prisão. Detentos cada vez mais barulhentos. A comida — como diz o personagem Jim, a única coisa que lhes resta fazer no presídio — que embrulha o estômago. A greve de fome como arma para conseguir melhores condições durante o encarceramento, que animaliza e corrói.
        Tudo o que foi mencionado não traduz nem de longe o arrebatamento que me faz dizer que se trata da peça mais emocionante que já vi e a que arrancou os mais longos aplausos que já presenciei — retribuição de um público do qual, para felicidade minha e desconcerto dos meus músculos enrijecidos pela tensão, eu fiz parte com um envolvimento na potência máxima. I strongly recommend que as pessoas se disponham o mais rapidamente possível a voltar para casa atordoados por esse soco no estômago.




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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Baía de Guanabara

        Qual vista da Baía de Guanabara você acha mais esplêndida? Do Cristo Redentor? Do alto do bondinho do Pão de Açúcar? Da ponte Rio-Niterói? Da barca? Da Fortaleza de Santa Cruz?
        As minhas favoritas são as do Cristo Redentor e, recentemente, experimentei uma nova maneira de desfrutar um pouco mais dessa maravilha: em um passeio de escuna.
        Essa opção é ótima porque, ao contrário do Cristo e do Pão de Açúcar, onde não conseguimos ficar admirando a vista por muito tempo por serem pontos turísticos e ficarem muito cheios, e da ponte e da barca — a travessia em condições normais não ultrapassa 30 minutos —, é possível passar mais tempo namorando a paisagem.
        Esse passeio de escuna pode ser feito de manhã (saída às 10h) ou à tarde (saída às 15h) e tem duração de 2 horas e meia.
































































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domingo, 10 de junho de 2012

Para comer bem

        O Genova, em SP, é assim: um encanto para o paladar.
        Você consegue imaginar polenta como uma iguaria leve? O Crostini di Polenta - polenta frita crocante, com molho de linguiça toscana e de cogumelo fresco - mudou o meu conceito, pois é feito sobre uma base de polenta levíssima e deliciosamente crocante.
        O tiramissu é também uma bela surpresa, dos melhores que há. Quem já provou a receita de tiramissu tradicional, feito na Itália, entende bem o que eu quis dizer.
        A história do Genova é interessante e talvez explique um pouco o que é que esse italiano tem de tão especial. A origem do restaurante Genova está relacionada à história de 4 amigos, todos descendentes de famílias italianas. A partir do sucesso que um certo macarrão com gorgonzola fazia nos encontros entre os amigos para jogar cartas e bater um papo, "surgiu a idéia de alugar uma casa e montar um espaço para reunir os amigos e amantes da culinária italiana, nascendo o GENOVA - Clube de Gastronomia".



Spaghetti al Limone


Capellini agli Scampi


Tiramissu





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