terça-feira, 19 de junho de 2012

Peça Não sobre rouxinóis

        "Um soco no estômago", pensei, ainda atordoada pelo impacto das cenas, como uma possível definição para a peça.
        Eu poderia dizer que o que torna essa peça ainda mais especial é o fato de ser um texto de Tennessee Williams inédito no Brasil, ou de a peça ter sido baseada em um fato real, ou de um texto escrito em 1938 ser tão atual. Isso é pouco, muito pouco, diante de um espetáculo que nos deixa de olhos arregalados e estômago apertado.
        Para mim foi impossível desgrudar os olhos do palco. Intensidade. Nos gestos violentos, nos gritos, nos corpos se contorcendo dentro da câmara de gás, na briga para respirar dentro do buraco — uma luta brutal pela vida.
        Estrangulamento. Chibatadas. Torturas incentivadas por quem comanda a prisão. Detentos cada vez mais barulhentos. A comida — como diz o personagem Jim, a única coisa que lhes resta fazer no presídio — que embrulha o estômago. A greve de fome como arma para conseguir melhores condições durante o encarceramento, que animaliza e corrói.
        Tudo o que foi mencionado não traduz nem de longe o arrebatamento que me faz dizer que se trata da peça mais emocionante que já vi e a que arrancou os mais longos aplausos que já presenciei — retribuição de um público do qual, para felicidade minha e desconcerto dos meus músculos enrijecidos pela tensão, eu fiz parte com um envolvimento na potência máxima. I strongly recommend que as pessoas se disponham o mais rapidamente possível a voltar para casa atordoados por esse soco no estômago.




Link para essa postagem


Nenhum comentário:

Postar um comentário