terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Enxergando no escuro

        Xi, de repente acabou a luz. Resta a luz da tela do laptop, que estava com a bateria carregada.
        E o que há de tão grandioso na ausência de luz elétrica? Quatro sentidos, que não a visão, esperando sua grande chance para o papel de ator principal.
        Desempenhar qualquer tarefa cotidiana sem luz pode parecer, em um primeiro momento, o mesmo que voltar a usar máquina de escrever ou ligar para casa de um orelhão com ficha. A verdade é que a luz norteia quase todas as nossas atividades e, justamente por isso, sua ausência pode ser uma boa oportunidade para melhor explorar os outros sentidos.
        Quando acabou a luz, meus passos se viram ansiosos por um paliativo para uma simulação da vida normal. Mas minha disposição para, à luz de velas, dar continuidade à rotina era pouca ou nenhuma. Então, resolvi dispensar a vela. E a escuridão dessa última hora me fez aprender algumas lições: quando os frascos de shampoo e condicionador são idênticos, você pode perceber a diferença pelo cheiro e, se seu nariz não ajudar, as texturas não deixam dúvida; separar as roupas por tipos em uma hora dessas faz com que você não precise tatear todo o armário em busca de uma peça; lembrar que existe um tapete no caminho pode fazer a diferença entre continuar com o seu dedo mindinho intacto ou não; meu paladar sabe a diferença entre leite integral e desnatado; meus dedos (não treinados pelos antigos cursos de datilografia) não negam fogo diante de um teclado, pois batalharam (bem trôpegos, é verdade) procurando o caminho para eu escrever esse post.
        Então, ah, que pena, voltou a luz...



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domingo, 1 de janeiro de 2012

Resoluções de Ano Novo

        Tão tradicionais quanto usar roupa branca na passagem do ano, ir à praia oferecer flores a Yemanjá e lançar mão de tudo o que se ouviu dizer que pode dar sorte no ano que chega são as resoluções de ano novo.
        Essa divisão do tempo em dias, meses e anos sempre foi usada para nos dar novo fôlego e alimentar nossas esperanças quanto ao futuro: amanhã eu começo a dieta, mês que vem eu me matriculo no curso de inglês, ano que vem eu consigo fazer aquela tão sonhada viagem... E, assim, vamos dividindo nossos sonhos e metas pelo calendário.
        Quantas resoluções de ano novo são anotadas e quantas realmente se concretizam?
        A tentativa de atrelar nossos desejos de realização pessoal ao relógio pode ser uma grande armadilha em vez de um auxílio disciplinar. O tempo do calendário independe do nosso tempo de vida, sonhos e expectativas. O tempo do calendário nos ignorará solenemente para o resto da vida. O tempo do calendário desconhece o tempo que mais nos importa: o tempo interno.
        Vincular nossas realizações ao tempo do calendário muitas vezes implica em desconsiderar nosso tempo interno. E o tempo certo é quando o tempo das coisas e o nosso tempo interno se encontram.
        Criar mil listas de livros, filmes, cursos e atividades a cumprir e chegar ao fim do ano com todos os checkboxes marcados pode significar persistência e disciplina, mas é preciso tomar cuidado para que isso não seja resultado de inflexibilidade, para que não acarrete em pouco tempo para reflexão, poucos momentos contemplativos, pouco espaço para deixar-se levar pela vida, para ser arrebatado pelo novo, inesperado e inusitado. Se o seu calendário de ano novo estiver completamente preenchido, seu ano não terá espaço suficiente para ser tão novo assim.





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