sábado, 29 de dezembro de 2012

Com o perdão da obviedade (ou segundo lembrete para mim mesma)

Quando você está certo, tudo dá certo. Se não está dando certo é porque você está errado.


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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Saudades da terrinha

        Não há melhor medida de distância do que a saudade. Levando isso em consideração, o Brasil me parece a anos-luz daqui.
        Diante dos quase 3 meses que me restam na Espanha, já começo a sentir falta de coisas tão bobas que nem fazem diferença para quem está aí. Saudades de ouvir bossa nova escoando do rádio do vizinho aos domingos. Saudades de passear com o cachorro no quarteirão de sandálias Havaianas, pois o frio daqui me obriga a estar permanentemente envolta em camadas de roupas. Só vejo meus pés na hora do banho. A falta de convivência anda nos distanciando.
        Sinto saudades até do calor insuportável do Rio. Era um incômodo já administrado. Há 10 dias ando fazendo revezamento de dor de garganta, resfriado e insônia por causa do frio. Os aquecedores do quarto e da sala também andam se revezando para dar conta de aplacar o desconforto e me manter em funcionamento.
        Mas o que mais pesa é a distância dos entes queridos que povoam o meu dia a dia na terrinha. Sabe aquele telefonema com convite para o almoço de domingo? Aquele torpedo para assistir à estreia de uma peça? Aquele encontro para um cineminha à noite? Aquela fugidinha para um café com uma amiga? Pois é. Eles não me alcançam. Estou totalmente fora da área de cobertura.
        Felizmente, a internet me dá uma certa ilusão de proximidade. Enquanto a terrinha fica só na lembrança, escrevo aqui para me sentir mais perto.
        Mas nem tudo é lamúria. Há coisas absolutamente incríveis e dignas de nota por aqui. Tratarei de aproveitá-las, pois elas também deixarão saudades quando eu voltar ao Brasil. E, claro, compartilharei essas novidades com vocês aqui no blog quando o tempo me permitir.
        Por ora me despeço, deixando um grande abraço aos meus amigos, familiares e a todos que acompanham o blog. Um 2013 cheio de alegrias tupiniquins para vocês.


Foto de Rodrigo Valverde, que me fotografou fotografando ao amanhecer.
Para ver mais fotos do Rodrigo, visite o blog Por mis ojos em http://rodrigo-pormisojos.blogspot.com.es/





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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Súplica em um dia de calor

        Alguém pode dar uma vassourada nesse calor que está pousado no meu quarto?



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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Definição de sonhador

        Para mim um sonhador é aquele que acredita mais naquilo que imagina do que naquilo que vê.



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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Além da imagem

        Os cariocas estavam ansiosos para a chegada da exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade, que ficará no CCBB até 13 de janeiro. "A exposição traz pela primeira vez ao país uma seleção de 85 obras-primas do acervo do Museu d'Orsay de Paris, um dos mais visitados museus do mundo, dedicado à arte do século XIX e detentor da mais importante coleção de impressionistas".
        Diante de exposições desse peso, a história se repete: o público corre para as livrarias para conhecer mais sobre o assunto e usufruir mais plenamente do que está em exibição em sua cidade. Outros se animam e resolvem fazer o tão sonhado — ou um sequer cogitado — curso de História da Arte.
        Um evento assim, que mobiliza multidões, às vezes é o único estímulo forte o bastante para se colocar em prática, lendo e estudando, o que antes era, para muitos, uma vontade remota. Seja lá o que tenha impulsionado a vontade de aprender — a indicação de um professor, a recomendação de um amigo, um conselho de um parente, um texto na internet, a insistência do namorado —, uma leitura ou curso têm o maravilhoso poder de nos renovar. A chance de você ficar no mínimo feliz com a oportunidade de upgrade concedida a si próprio é imensa.
        Nem sempre o que impulsiona a aquisição de conhecimento é tão notório quanto essa exposição que veio nos visitar. Às vezes é mais fruto de um processo interno do que de um acontecimento externo. Pode ser que o que você pretende conhecer mais a fundo sempre tenha feito parte da sua vida. E pode ser algo tão presente que você nunca tenha cogitado estudar justamente pelo fato de o assunto já lhe parecer suficientemente familiar. Isso acontece, por exemplo, com pessoas que têm um parente que cozinha tão bem e está tão à mão para ensinar ou dar dicas que chegam a desconsiderar a hipótese de estudar gastronomia.
        Algo parecido me aconteceu muito recentemente. Apaixonada por fotografia, achava que o núcleo do assunto era a técnica, mas cheguei a outra conclusão: o núcleo do assunto é a imagem em si. A partir dessa constatação, qual direção seguir? Estudar imagem? Afinal, imagem não é algo banal, de conhecimento universal e inerente à existência?
A imagem não é algo dominado porque é onipresente. É um universo a se estudar sob os mais variados aspectos. Imbuída desse pensamento, resolvi conhecer melhor o assunto. Então, para me nortear nessa nova aventura, resolvi fazer o — excelente, por sinal — curso de composição da imagem no Ateliê da Imagem. E meu olhar, felizmente, ganhou a chance de se tornar embasado. Como meu lema é socializar o que pode ser enriquecedor, deixo para vocês o depoimento do professor desse curso, André Dorigo:
        "O curso tem por objetivo proporcionar ao aluno a compreensão dos elementos, conceitos e recursos visuais usados na composição de imagens, para que possam servir de ferramenta para o desenvolvimento do seu trabalho pessoal. A partir dos exemplos dos grandes mestres da pintura e da fotografia, buscamos refletir sobre a imagem ao longo dos diversos períodos históricos de modo a compreender melhor a produção (e a profusão) imagética do nosso tempo. Os alunos também são convidados a apresentarem seus trabalhos, para que sejam discutidos em classe. No entanto, mais do que estimular a produção e análise de imagens, o curso pretende ser um exercício do olhar".
        Em uma época de bombardeios diários com novos equipamentos digitais cada vez mais inteligentes e cheios de recursos, acabamos deixando de lado o que motiva o clique: o olhar — o início de tudo.
        Você já parou para analisar o quando a cultura na qual você está imerso determina a sua leitura da imagem? Já observou como o corte que se faz no enquadramento, inclusive a escolha das orientações retrato ou paisagem, determina o olhar do leitor? Já se deteve um pouco mais nas linhas que compõem a imagem? Já avaliou a intenção do fotógrafo ao capturar a imagem naquele ângulo escolhido?
        Todos somos consumidores de imagens, e esse assunto não nos é indiferente. No caso de produtores de imagens, então, esse conhecimento é essencial. Mas, acima de tudo, dispor de ferramentas que embasem o olhar e ver antigas imagens adquirindo novos sentidos é se sentir também renascendo.



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domingo, 21 de outubro de 2012

Qual é o seu lugar no mundo?

        Você já pisou em algum lugar e de repente teve a sensação de que aquele era o seu lugar no mundo? Isso aconteceu comigo quando conheci Ouro Preto. Se me fosse concedido um desejo, eu pediria para visitar Ouro Preto todos os anos até o fim da vida.
        Abrir a janela e ver enquadradas as montanhas salpicadas de igrejas, comer couve com tutu à mineira, doces caseiros sem igual, aquela variedade de queijos saborosos, um inesquecível mexidinho, ver o entardecer dourando as construções tombadas, subir suas ladeiras de pedra-sabão, misturar-se ao burburinho universitário em épocas de festa ou procurar uma ruela e ficar sentado na calçada observando os contornos da paisagem - poucas coisas nessa vida me parecem tão desejáveis desde que os meus olhos encontraram aquele relevo pela primeira vez.
        Ah, Ouro Preto me emociona como só mais um lugar conseguiu: Tiradentes. Essa cidade também transmite tanta paz, tem um poder de encantamento tão avassalador que dá vontade de se camuflar para se misturar à paisagem acolhedora. Um final de semana por lá e você já está "amineirando" o passo, conferindo as horas no relógio de sol da Igreja da Matriz, folheado livros de "causos" do lugar, querendo se demorar.
        Ouro Preto e Tiradentes são dois lugares onde me desfaço para me refazer com menos racionalidade e mais emoção. Lugares onde me escuto melhor, onde me calo melhor, onde a solidão é mais companhia e onde cada ruazinha é imensidão.
        Não importa o seu lugar no mundo. Pode ser outra cidade, outro país, um bairro, a sua casa, a casa da sua mãe ou avó, o parque onde você caminha, a praia que renova suas energias. O importante é que você reconheça esse lugar e sinta que você tem para onde voltar quando quiser se (re)encontrar.




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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pensamento à toa, à toa

        Há dias em que, se não fosse um café, o dia simplesmente não seria.


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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Frase

        Hoje acordei com uma frase na cabeça que li pela primeira vez aos 12 anos: "Alimentai a mente com grandes pensamentos, pois jamais subireis mais alto do que sois capazes de pensar."


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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Altruísmo

        Altruísmo é ofertar o silêncio em vez da própria voz.


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domingo, 23 de setembro de 2012

Sobre as peças Barrela e Ato de comunhão

        A peça Barrela contém cenas que você, definitivamente, não gostaria de ver, assim com a peça Ato de comunhão contém descrições que, igualmente, você mal pode acreditar que tenham sido baseadas em fatos reais. Duas peças indigestas para os olhos e para os ouvidos; duas peças que causam um estranhamento quase insuportável. Duas peças proibidas para quem tem nervos, coração e estômago fracos; duas peças obrigatórias para quem quer expandir seus próprios limites como espectador.
        Que limites são esses? Bem, muita gente tem a diversão como principal parâmetro para ir ao teatro. Se você se encaixa nessa categoria, risque essas duas peças da sua lista. Não há nada menos divertido do que o que se ouve e vê nelas. As imagens e as palavras incomodam porque são reflexos de realidades que a maioria quer manter debaixo do tapete. É duro ter conhecimento da realidade carcerária. Também é duro acreditar que alguém possa comer, premeditadamente, um pedaço de carne humana. Nas duas peças a brutalidade impera. A brutalidade é a face mais pungente do nosso lado obscuro. A brutalidade nos aproxima dos animais. E a animalidade humana é tudo o que a educação e a religião procuram combater. O limite, então, são realidades medonhas que não rimam com diversão.
        Ora, a gente busca conhecer outras realidades o tempo inteiro. A gente procura isso na TV e no cinema. A gente está exposto a isso quando lê o jornal. E, se não busca, a exposição a outras realidades se dá involuntariamente, de modo corriqueiro: na música que eu jamais escolheria escutar, mas que está tocando no carro que passa; no linguajar que eu entendo, mas não sou capaz de usar; nas roupas alheias que me causam estranhamento; na comida da foto que eu nunca provei; até na vizinhança a realidade de quem mora ao lado é muito diferente da minha.
        Então, por que só ir ao teatro para identificar-se com o(s) personagens,? Por que escolher pisar sempre em terrenos conhecidos? Por que sempre o caminho do riso fácil, da identificação fácil, da compreensão fácil?
        Por que nos palcos a brutal realidade é menos digerível do que nos livros, jornais, cinema e TV? No teatro não há folhas nem telas de vidro que nos separem de duras realidades. Nos outros casos, se ficar difícil de suportar, basta fechar o livro/jornal, desligar a TV ou sair da sala de cinema, não é mesmo?
        E quando você está a alguns palmos de distância do(s) ator(es), como nessas duas peças, apresentadas em espaços mínimos? E se, no meio do espetáculo, você tiver vontade de invadir a cena, gritar, deter o ator ou desaparecer da cadeira? Nesse tipo de peça, é possível brotar alguma ânsia similar. É apenas o desconforto fantasiando uma saída estratégica. E o desconforto, caro leitor, não é amigo da diversão, mas um companheiro muitas vezes inseparável do crescimento.


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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aos meus amigos, esses professores

        De repente alguém lhe mostra um recanto mágico na cidade onde você morou a vida inteira e você se sente um turista em sua própria cidade.
        De repente você sente vontade de assistir a um determinado filme ou show, ler um certo autor ou viajar para um local específico simplesmente pela maneira apaixonada como alguém o descreveu.
        De repente você se vê emendando duas sessões de cinema, um filme com uma peça, uma exposição com um filme, uma peça em outra peça e se pergunta por que levou tanto tempo para perceber que cinema não precisa ser só aos domingos, nem peça só de vez em quando, nem ópera de vez em nunca, nem zoológico só quando há criança por perto, nem circo só quando se é criança.
        De repente você entra numa livraria acompanhado para tomar um café e, depois de uma conversa que não para de zunir na sua cabeça, matricula-se em uma nova faculdade na semana seguinte.
        De repente você se vê dando/recebendo presente em um dia comum, sem nenhum motivo aparente, e se pergunta por que todo mundo passa a vida inteira esperando datas especiais para isso.
        De repente você está com medo do voo por ter que saltar do penhasco e alguém te dá um empurrão.
        De repente você está decidido a pular do penhasco e alguém te dá um puxão.
        De repente novas maneiras de sentir, enxergar e viver se chamam simplesmente amizade.



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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Lembrete para impulsivos

Basta um minuto para se jogar fora o que às vezes levou a vida inteira para se construir.


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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Seguro é estar com os pés no chão

A mãe diz ao filho alpinista:
— Filho, seguro é estar com os pés no chão.
E o filho emenda a pergunta:
— E quando você precisa menos de segurança e mais de emoção?


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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Música oportuna

Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez

Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

(A música Sol de Primavera, que deu nome ao terceiro álbum de estúdio de Beto Guedes, lançado em 1979, foi composta por Beto Guedes e Ronaldo Bastos).



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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Aparências

        Parou em um boteco. Nenhum atendente lhe deu atenção. Uma moça encostou no balcão e pediu um suco. O atendente distraiu-se por um instante com a tatuagem no dorso da mão que ela tentava esconder puxando a manga da blusa.
        — É uma borboleta?
        — Não. Um elefante.
        — A senhora pagou para um tatuador fazer um elefante parecer uma borboleta?
        — Não. Eu pedi um elefante, mas todo mundo acha que é uma borboleta.
        — Puxa, que azar, hein?
        — Azar, nada. Foi sorte.
        — Sorte?
        — É. Sorte de me livrar dele.
        — Dele quem? Do elefante?
        — Não, de me livrar do ex. O tatuador era namorado na época. Eu não queria fazer a tatuagem, mas ele acabou me convencendo. Na véspera tivemos uma briga horrível. Ele deformou o elefante só de raiva.
        — Toda vez que a senhora olha para a borboleta se lembra da briga?
        — Elefante. Para mim sempre vai ser um elefante.
        O homem que assistia a tudo, até então calado, bateu com a chave de casa no vidro do balcão.
        — Estou há 5 minutos esperando alguém me atender, e todo mundo fica para lá e para cá sem olhar para a minha cara. Para piorar, esse cidadão ainda fica perdendo tempo com borboleta.
        A moça apertou os lábios.
        — Elefante. E-le-fan-te. Quer saber? Nem provei o suco e já não gostei. Pode cancelar o pedido.
        — Mas, moça, o suco já está pronto.
        O homem olhou para o copo e guardou a chave no bolso.
        — Me passa o suco. Essa pizza aí está quente?
        — Está morninha.
        — Então, me vê quatro do que estiver mais quente e embrulha para viagem. Minha mulher está esperando em casa e vocês já me fizeram esperar mais do que devia.
        Bebeu três goles do suco e afastou o copo. Pegou um punhado de moedas no bolso e colocou no balcão. Saiu sem esperar o atendente terminar de conferir o dinheiro.
        Foi caminhando apressado com o embrulho na mão, olhando os ônibus que passavam quase vazios. Segunda-feira à noite, a cidade ainda carregava a preguiça do domingo.
        Viu seu ônibus passando. Fez sinal. Não era ponto, e o motorista não parou. Parou para investigar no bolso se tinha dinheiro trocado para o ônibus. Remexeu no bolso da calça e percorreu com os dedos as notas do pagamento do mês. Puxou a primeira e olhou: uma nota de dez. Colocou-a no bolso da camisa para pagar a passagem.
        Notou que o ônibus que passava ainda não era o seu. Ouviu um assovio a uns passos de distância. Devia ser alguém fazendo sinal para o motorista, mas o ônibus não parou. Mais uns minutos, outro assovio. Nenhum ônibus adiante. Uma sombra se aproximava. Apertou o passo. Olhou novamente para a sombra, que não parecia ser alguém corpulento, mas uma protuberância naquela mancha preta chamou sua atenção.
        Começou a suar frio. Teve vontade de correr, mas apenas acelerou o passo. A sombra acompanhava o seu ritmo. Novo assovio. Definitivamente, era com ele. Gelou. Nada de ônibus. Nada de gente por perto. Nada de coragem de correr. Finalmente, a sombra o ultrapassou. Sua cor havia escoado. A sombra era um menino com uma garrafa na mão que, de súbito, pôs fim ao tormento:
        — Tio, me dá um cocrete?


Postado também no blog Nós da Escrita.


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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pluralidade - Ne me quitte pas














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domingo, 5 de agosto de 2012

Lagoa Rodrigo de Freitas

Domingo, dia de descanso,
não para os esportistas.
Bicicletas alugadas
zanzam
em não sei quantas voltas
desvairadas.
Os pedalinhos se julgam
os senhores da lagoa
até surgir uma canoa
e lhes roubar o lugar.
A árvore-balanço
observa o menino suspenso.
E o cão, logo embaixo,
pensando que é alpinista,
tenta vencer a árvore.
Frustrado, faz as pazes
com o chão.
A menina aponta
o coco gelado,
o milho cozido,
o amendoim açucarado.
A mãe, com toda a paciência,
explica a diferença
entre carrinho de pipoca
e merendeira.
A moça de preto contabiliza
um sem fim de passos.
Mal come,
apenas bebe — só água.
A academia,
a dieta
e a balança
governam seus dias.
Não há trégua.
Vai ao seu lado,
igualmente cansado,
o cachorro da moda
de ontem à tarde.
Domingo, dia de descanso.
É preguiçoso o acordar
e demorado o café.
De tão atrasado o almoço,
por um triz, desavisado,
não esbarra no jantar.


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domingo, 15 de julho de 2012

Estamos desaprendendo?

        Quando vejo pessoas guardando papéis de bala no bolso ou na bolsa, assentos reservados aos idosos no metrô vazios nos horários de maior movimento e pessoas recolhendo os malcheirosos rastros de seus animais após os passeios, surge um sorriso de alívio no rosto. No entanto, basta observar um pouco mais para o sorriso dar lugar à testa franzida. Crianças se debatendo aos gritos com os pais pelas ruas, motoristas ignorando faixas e pedestres, pedestres ignorando sinais fechados, motoristas e pedestres ignorando as dificuldades dos idosos, pessoas acompanhadas que não tiram os olhos nem os dedos do celular por horas a fio, pessoas gritando ao celular, ignorando os ouvidos alheios. Quando/por quê perdemos o rumo quando o assunto é o outro?
        Lemos, fazemos cursos, assistimos a palestras. Queremos lazer, queremos qualidade de vida, queremos progredir. Estamos atentos a tudo o que diz respeito a crescimento pessoal. E os outros? Onde ficaram os outros?
        E quando os outros são os bem próximos? O quanto estamos contribuindo para a felicidade deles? Estamos dando ouvidos às necessidades dos nossos parentes e amigos?
        E as crianças? Estão sendo preparadas para enxergar os outros? Afinal, quando pensamos em família, o que queremos não é ter filhos, netos, sobrinhos e afilhados que aprendam as lições básicas de convivência, que tenham a ensinar para a sua geração e para as gerações futuras?
        Que bons hábitos adquirimos e que maus hábitos se instalaram nos últimos tempos? Que lição julgávamos aprendida e se perdeu sem nos darmos conta?
        Com certeza avançamos vorazmente nos quesitos educação ambiental, ciência e tecnologia. Entretanto, o material humano, que determina os rumos de tudo isso, caminha na contramão da evolução quando se mostra, por exemplo, incapaz de dizer "bom dia", "com licença", "por favor" e "obrigado".
        Quando o assunto é civilidade, estamos, apesar de tanta teoria, desaprendendo na prática?



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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Escrever é um salto sem rede

        O que você escreveria se tivesse certeza de que ninguém leria?
        Que medo é esse que paralisa a escrita? Medo da exposição? Das críticas? De não achar o próprio texto bom? De os outros não acharem o texto bom? Medo de o texto revelar os próprios medos?
        A boa notícia é que há um excelente curso em andamento para ajudar a exorcizar esses fantasmas. Quem ministra é Marcia Zanelatto. Marcia é escritora, roteirista e poeta, com textos premiados pela Academia Petropolitana de Poesia, Instituto Ford, Centro Cultural Banco do Brasil, entre outros. Segundo Marcia, o curso pode valer muito a pena para quem se arriscar.
        Para começar a escrever, Marcia diz que é preciso perder o pudor; deixar de lado a autocensura; libertar-se do medo de revelar sua vida interior; despojar-se da necessidade de estar dentro de um cânone.
        O que aconteceria se essas barreiras internas deixassem de existir? No mínimo, o ganho seria uma dose extra de autoconhecimento.
        Ficou com vontade de se aventurar? Então, vou deixar aqui mais algumas considerações de Marcia para ajudar a espalhar essa semente:
        "Escrever é uma oportunidade de rever sua relação com suas próprias dores e medos".
        "A diversidade é alimento para a nossa criatividade".
        "A gente acha que escreve com a mente. A gente escreve com o corpo. A gente escreve com a intuição".
        "O mistério da escrita se desvela no ato de escrever".
        "A sua criatividade está louca para encontrar um elemento externo no qual ela possa grudar".
        Para os "aventureiros", o POP fica na Rua Conde Afonso Celso, 103 - Jardim Botânico - RJ.
        Boas descobertas!



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terça-feira, 3 de julho de 2012

Peça A descoberta das Américas

        À semelhança da contação de histórias, A Descoberta das Américas é um espetáculo onde há espaço para a imaginação. Não há cenário. As luzes permanecem inertes. E o público fica completamente embevecido durante 1 hora e meia.
        Fui assistir à peça por indicação de um amigo, que me contou que aquela era a sua quinta vez. A irmã estava assistindo à peça pela sétima vez. Eram bons prenúncios de uma apresentação incomum.
        Soa a campainha. Logo os desavisados percebem o tom da peça: o ritmo frenético. Uns devem estar apostando com o amigo do lado que o ator não conseguirá sustentar aquele arrebatamento até o fim do espetáculo. Mas quem está em cena é Julio Adrião, que adaptou o texto de Dario Fo com Alessandra Vanucci, ganhou o prêmio Shell de melhor ator em 2005 e foi elogiado por Bárbara Heliodora.
        Ele é Johan, que embarcou em uma caravela de Cristóvão Colombo. Aliás, não só Johan. É também a caravela, os índios, os animais e tudo o mais. Com expressões corporal e vocal precisas, seu corpo parece talhado para a peça. E a peça o talhou — já foram mais de 500 apresentações com uma atuação de um furor magistral.
        Narrador e personagem, Julio Adrião é tudo (em todos os sentidos) em cena — tudo o que se pode imaginar e muito mais.
        A Descoberta das Américas está em cartaz até 6 de julho (só essa semana!) no Teatro Serrador, que fica na Rua Senador Dantas, 13 - Cinelândia - RJ.
        Saiba mais sobre a programação do Teatro Serrador em http://alfandega88.com.br/teatroserrador/


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domingo, 24 de junho de 2012

Domingos

        Ao contrário de muita gente, não acho domingo um dia chato, morno nem deprimente. Domingo para mim é o dia mais especial da semana. Não sei se é o meu favorito, mas tenho que reconhecer que é um dia que não se parece em nada com nenhum outro.
        Começando pelo óbvio: para muitos, é o único dia de descanso da semana. Para católicos, é dia de ir à missa. Para leitores de jornais, é o dia de leitura mais farta. Para as crianças, é dia de brincar na pracinha. Para muitos casais, é dia de ficar junto. Para as famílias, é dia de almoçar na casa da mãe, avó, sogra, tia. Para muitos amigos meus, é dia de ir ao cinema.
        Para quem quer um descanso da cozinha, é o dia de almoçar fora. Para quem aproveita para se organizar, é o dia de colocar em dia os telefonemas para a família e fazer faxina na caixa de e-mails. Para quem quer desacelerar, é dia de acordar mais tarde, tomar café da manhã sem pressa, caminhar em locais com bastante verde, ir à praia. Para quem tem casa de veraneio, é dia de deitar na rede, pisar na grama, reparar nas formas que vão tomando as nuvens no céu.
        Para mim, é o dia mais silencioso da semana. Calam-se as britadeiras, os ambulantes, as buzinas para chegar a tempo no trabalho, os ônibus escolares. E o silêncio é cortado poucas vezes pelos risos de crianças jogando bola no playground, pelo barulho dos talheres do almoço com a família reunida no apartamento ao lado.
        Domingo é dia de refazer as energias para a nova semana. De planejar o futuro bem próximo, o distante e o nem tão distante assim. É dia dos hobbies, do lazer, do descanso, da contemplação, da união. É o dia em que o mundo para para reunir energia para mover o mundo na semana seguinte.



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Me ensina a sentir?

        — Nina, como é que você faz esse arroz?
        — Sei lá. Normal. Como todo mundo faz.
        — Não. Seu arroz não é igual ao de ninguém. Tem um quê de diferente. Não sei explicar, mas tem.
        — Talvez seja essa "nata" de tomate por cima. Nem todo mundo faz assim, acho.
        — Eu já comi seu arroz antes. E não tinha tomate. Estava tão gostoso quanto esse. Tem algum outro segredo. E também tinha outra coisa por cima.
        — Cebola. Era cebola.
        — Hoje é tomate e da outra vez era cebola?
        — É. É uma confusão de influências, sabe?
        — Influências?
        — É. Minha avó sempre fazia com tomate por cima. A gente levantava a tampa da panela e via aquela camada de tomate por cima. Só depois de enfiar a colher é que aparecia o arroz. Era uma disputa para chegar à panela primeiro. O primeiro raspava um monte da "nata" de tomate. Era o melhor do arroz. E os outros ficavam reclamando: "Não é justo! É para enterrar a colher até o fundo da panela e puxar! Não vale raspar todo o tomate!"
        — E a cebola?
        — A cebola? Era minha mãe quem colocava. Acontecia a mesma coisa que acontecia na casa da vovó, só que a "nata" era de cebola. Na casa da mamãe, a disputa era pela cebola, sabe?
        — Hmmm. E você, como ficou?
        — Fiquei como?
        — Entre o tomate e a cebola.
        — Fiquei confusa.
        — Não tem um preferido?
        — Não.
        — Então, por que você não mistura? Deixa uma "nata" de tomate e cebola no seu arroz.
        — Não dá certo. Uma vez vi uma nutricionista falando na TV que, quando se tem um filho pequeno, deve-se dar cada alimento do prato separadamente para a criança aprender a diferenciar os sabores. Percebi que também fui acostumada assim. Preciso separar o tomate da cebola para poder sentir direitinho o sabor de cada um.
        — Me ensina a fazer esse arroz?
        — Você prefere com tomate ou cebola?
        — Tanto faz. Os dois são bons.
        — Vou te contar um segredo. Não sei cozinhar nada. Nada mesmo.
        — Como assim? E esse arroz?
        — Decorei como fazer de tanto ver. Minha avó e minha mãe, como tantas mães e avós, faziam arroz todo dia. A única coisa que faço na cozinha é esse arroz. O resto eu compro pronto para acompanhar.
        — Por que não compra tudo pronto logo de uma vez? Não é mais fácil?
        — Porque é uma receita de família. Uma não. Duas. Duas variações da mesma coisa. Herança. Da mãe e da avó. O que eu vou dizer para um filho sobre receitas de família quando ele crescer?
        — Então, me ensina a fazer o arroz. Pensando bem, você deve estar enjoada de só fazer arroz, né? Você bem que poderia me ensinar a fazer alguma outra coisa que não fosse na cozinha.
        — Que outra coisa?
        — Sei lá. Que outra coisa você sabe fazer?
        — Nada.
        — Nada?
        — Nada.
        — Desenhar? Jogar xadrez? Nadar?
        — Não sei fazer nada disso.
        — Pode ser outra coisa. Você deve saber fazer outra coisa. Qualquer coisa.
        — Não sei. Não mesmo. E a única coisa que eu sei fazer não dá para ensinar.
        — O que é?
        — Sentir.
        — Sentir?!
        — É.
        — Como assim?
        — Quando sinto um cheiro, sei dizer exatamente de que é. Pode testar com qualquer coisa.
        — Qualquer coisa mesmo?
        — Qualquer uma. Que eu conheça, é claro.
        — E o que mais você sabe sentir?
        — Sinto cada nota de uma música ressoando no meu corpo. E separo os instrumentos todos dentro da cabeça: baixo, guitarra, bateria... Já percebeu que cada pessoa dança acompanhando um dos instrumentos? Pode reparar.
        — Nunca reparei.
        — Pois é. Eu poderia ficar o dia todo falando de tudo o que eu consigo sentir com uma enorme precisão. Mas isso não serve para nada, né?
        — Claro que serve. Me ensina a sentir, então.
        — O que você quer aprender a sentir?
        — Gostei desse lance de sentir as notas e de separar o som. Quando escuto uma música, ouço apenas uma massa sonora. Não consigo separar os instrumentos na cabeça como você falou.
        — Tá. Deixa eu colocar uma música.
        — Hmmm, essa música parece ser ideal. Acho que vai ser fácil.
        — Feche os olhos, acompanhe o som mentalmente e...
        — Tô sentindo...
        — ?
        — ...cheiro de arroz queimado. Nina, você esqueceu o fogo do arroz aceso!!!!!



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sábado, 23 de junho de 2012

Curtíssima

        Aonde quer que você esteja indo, chegará mais longe se não estiver sozinho.



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Para um estado de sei lá agudo



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terça-feira, 19 de junho de 2012

Peça Não sobre rouxinóis

        "Um soco no estômago", pensei, ainda atordoada pelo impacto das cenas, como uma possível definição para a peça.
        Eu poderia dizer que o que torna essa peça ainda mais especial é o fato de ser um texto de Tennessee Williams inédito no Brasil, ou de a peça ter sido baseada em um fato real, ou de um texto escrito em 1938 ser tão atual. Isso é pouco, muito pouco, diante de um espetáculo que nos deixa de olhos arregalados e estômago apertado.
        Para mim foi impossível desgrudar os olhos do palco. Intensidade. Nos gestos violentos, nos gritos, nos corpos se contorcendo dentro da câmara de gás, na briga para respirar dentro do buraco — uma luta brutal pela vida.
        Estrangulamento. Chibatadas. Torturas incentivadas por quem comanda a prisão. Detentos cada vez mais barulhentos. A comida — como diz o personagem Jim, a única coisa que lhes resta fazer no presídio — que embrulha o estômago. A greve de fome como arma para conseguir melhores condições durante o encarceramento, que animaliza e corrói.
        Tudo o que foi mencionado não traduz nem de longe o arrebatamento que me faz dizer que se trata da peça mais emocionante que já vi e a que arrancou os mais longos aplausos que já presenciei — retribuição de um público do qual, para felicidade minha e desconcerto dos meus músculos enrijecidos pela tensão, eu fiz parte com um envolvimento na potência máxima. I strongly recommend que as pessoas se disponham o mais rapidamente possível a voltar para casa atordoados por esse soco no estômago.




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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Baía de Guanabara

        Qual vista da Baía de Guanabara você acha mais esplêndida? Do Cristo Redentor? Do alto do bondinho do Pão de Açúcar? Da ponte Rio-Niterói? Da barca? Da Fortaleza de Santa Cruz?
        As minhas favoritas são as do Cristo Redentor e, recentemente, experimentei uma nova maneira de desfrutar um pouco mais dessa maravilha: em um passeio de escuna.
        Essa opção é ótima porque, ao contrário do Cristo e do Pão de Açúcar, onde não conseguimos ficar admirando a vista por muito tempo por serem pontos turísticos e ficarem muito cheios, e da ponte e da barca — a travessia em condições normais não ultrapassa 30 minutos —, é possível passar mais tempo namorando a paisagem.
        Esse passeio de escuna pode ser feito de manhã (saída às 10h) ou à tarde (saída às 15h) e tem duração de 2 horas e meia.
































































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domingo, 10 de junho de 2012

Para comer bem

        O Genova, em SP, é assim: um encanto para o paladar.
        Você consegue imaginar polenta como uma iguaria leve? O Crostini di Polenta - polenta frita crocante, com molho de linguiça toscana e de cogumelo fresco - mudou o meu conceito, pois é feito sobre uma base de polenta levíssima e deliciosamente crocante.
        O tiramissu é também uma bela surpresa, dos melhores que há. Quem já provou a receita de tiramissu tradicional, feito na Itália, entende bem o que eu quis dizer.
        A história do Genova é interessante e talvez explique um pouco o que é que esse italiano tem de tão especial. A origem do restaurante Genova está relacionada à história de 4 amigos, todos descendentes de famílias italianas. A partir do sucesso que um certo macarrão com gorgonzola fazia nos encontros entre os amigos para jogar cartas e bater um papo, "surgiu a idéia de alugar uma casa e montar um espaço para reunir os amigos e amantes da culinária italiana, nascendo o GENOVA - Clube de Gastronomia".



Spaghetti al Limone


Capellini agli Scampi


Tiramissu





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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ausência x falta

        Sem dúvida, o que de melhor ouvi essa semana foi o seguinte: "Drummond fala sobre ausência e falta. A falta é o que você nunca teve e te deixa um buraco; ausência é o que você teve e já te preencheu."
        Graças a esse brilhante comentário da minha querida Dora, fui tentar achar o que Drummond fala sobre isso. Eis o poema, que deixo com um beijo de agradecimento à Dora por ter feito nascer esse post:

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/ausencia/


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Não saber (lembrete para mim mesma)

        Sabe quando você não sabe? Se ainda não sabe, o tempo vai te fazer saber. O tempo sempre faz. Às vezes ainda não deu tempo de o tempo te fazer saber, sabe?



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terça-feira, 29 de maio de 2012

"Um dia triste toda fragilidade incide"

        Hoje vai ficar para sempre como a pior data da minha vida, mãe. Faz exatamente um ano que você foi embora. Isso me faz pensar de onde tudo vem e para onde tudo vai, em como as coisas se transformam e em como a gente precisa se reinventar para lidar com certas coisas.
        Talvez até esse momento apenas umas duas ou três pessoas saibam onde ficaram as suas cinzas. Na época, todos tentaram me convencer de que, sem sombra de dúvida, o lugar certo era o jardim da casa que você tanto amou e da qual cuidou com todo o carinho por 20 anos. Muita gente me ligou, não perguntando, mas afirmando que qualquer outro lugar deveria ficar fora de cogitação.
        A decisão final cabia a mim, e somente a mim. Diante de tanta pressão e responsabilidade, apelei para a minha intuição. Em um primeiro momento, esse local também parecera óbvio, mas eu tinha medo de que, no dia em que eu não pudesse mais atravessar aquele portão, perdesse o acesso ao lugar onde ficaram as suas cinzas e não pudesse visitar o local quando quisesse prestar uma homenagem. E a minha intuição me levou para um lugar lindo, que você costumava frequentar com alegria: a Floresta da Tijuca.
        Como eu não tinha pensado nisso antes? Depois de uma rápida lembrança dos momentos felizes que passamos ali, ficou muito claro: aquele era o lugar certo. Mas todas as outras pessoas tinham tanta certeza de que o lugar certo para as suas cinzas era na sua casa que ninguém nunca me perguntou se foi lá que eu as coloquei, no final das contas.
        É, você foi levada pelo vento no alto de uma cachoeira, cercada por dezenas de espécies de plantas, ao canto dos passarinhos cruzando a imensidão de um céu como testemunha. Cortando o ambiente repleto de sons apenas da natureza, tudo que se ouviu no último momento de contato com o que havia sobrado de tangível de você, foi: "Voa, minha mãe, voa!"
        Sem mais caminhos que nos unissem fisicamente, era o que eu podia te desejar de melhor: a liberdade. De dores, sofrimentos, desilusões, arrependimentos e de todas as inevitáveis agruras da vida terrena.
        E você voou diante dos meus olhos, mãe, em milhares de partículas que, em poucos minutos, pousaram nos arbustos, nas árvores, nas flores, na água e nas pedras da cachoeira. Ali, mãe, você virou planta, água e flor, unindo o seu ciclo ao ciclo delas.
        Foi o melhor que eu pude fazer no final da vida para quem me deu a vida, e para quem uma vida de verdade era morar no mato, cuidar de plantas, cachorros e se esquecer da civilização para poder desfrutar das alegrias de estar cercado pela natureza.


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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Domingo legal


        Comemorações especiais merecem locais escolhidos a dedo. Mas as opções na cidade são tantas que confesso ficar meio perdida na hora de sugerir um local. Felizmente, tem sempre alguém para nos ajudar nessa tarefa, e uma boa sugestão pode render um dia memorável. Foi o que aconteceu recentemente. A sugestão da vez foi o Fiorino, na Tijuca, que encanta pela excelente comida e pelo clima aconchegante e cuidado em todos os detalhes.
        Segundo informações do site do próprio restaurante, "o Fiorino é membro da Accademia Gastronomica Italiana, sediada em Bologna (capital da Emilia-Romagna) e da Accademia Italiana della Cucina. Bologna é a capital da Emilia-Romagna, uma das regiões gastronômicas mais ricas da Itália. É a cidade natal das massas frescas feitas com farinha e ovos e estendidas a mão. Massas como lasagne, tagliatelle, ravioli, garganelle, tagliolini, cappelletti, tortelli e tortellini traduzem a fama mundial de sua gastronomia."
        O Fiorino fica aberto durante a semana só para o jantar, mas, no domingo, geralmente dia de almoço em família, dá para curtir a comida, o ambiente e a família de maneira especial.
        Compartilho com vocês as boas recordações desse dia, mostrando em fotos a beleza do local e dos pratos.











Tagliateli al Mare i Monti

Roselline Romagnole

O Fiorino fica na Av. Heitor Beltrão, 126. E, no domingo, abre às 12h.



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domingo, 27 de maio de 2012

Eventos surpresa

        Ganhei um convite da querida Bruna para o show da banda Los Hermanos no dia do evento e, agradecendo o carinho e a gentileza, resolvi escrever um pouquinho e postar algumas fotos do show.
        Minha sensação foi exatamente a da frase que surgiu do palco: "Lindo ver vocês daqui". Eu não tinha aquele mesmo campo de visão, obviamente, mas, de onde se olhasse, não dava para discordar. A Fundição estava realmente esplêndida, lotada por uma plateia que acompanhava as letras com devoção. Lindo de ver e de ouvir.
        Uma coisa que me deixa muito feliz é ser tomada de súbito por um(a) amigo(a), assim no meio do dia, assim tarde da noite, mesmo se eu já estiver de pijama, para um show, uma peça, um filme, um pastel no Bar do Adão, um sanduíche de queijo brie com damasco, um café ou simplesmente um evento que eu teria perdido se não fosse a gentileza do convite de alguém próximo, trazendo de presente uma experiência surpresa.
         Deixar-se conduzir, como na dança, saindo do programado, jogando tudo para o alto, é sentir novas emoções, permitir-se, descobrir-se e descobrir o outro. É como uma súbita rajada de vento no verão ou aquela onda inesperada que te molha inteira e te refresca quando você tinha planejado se molhar até o pescoço só para continuar com o cabelo penteado.
















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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ampliando a corrente

        Em tempos em que sustentabilidade é a palavra de ordem, não basta saber, tem que colocar em prática. Tenho visto muita gente que já tem como hábito separar o lixo, economizar água — nesse quesito, muitos filhos estão reeducando os pais com as informações que recebem na escola —, descartar pilhas e óleo de cozinha nos locais apropriados, deixar mais o carro na garagem, dando prioridade a outros meios de transporte, inclusive a bicicleta, ser mais seletiva na hora de consumir. Dos livros, das revistas, das campanhas na TV, as palavras vão virando ação nas empresas, nos lares, nas ruas.
        Tão importante quanto reduzir o consumo é consumir de maneira consciente, procurando saber mais detalhes dos produtos, como, por exemplo, a origem, a mão de obra utilizada e o processo de produção. Você gostaria de saber que um produto que comprou utilizou madeira certificada, assim como não gostaria de saber que ele foi feito com mão de obra escrava e que o seu processo de fabricação é muito mais nocivo ao meio ambiente do que você imaginava.
        Como uma mãe que ensina o filho a tomar banho, escovar os dentes e dar bom dia, o consumidor ensina ao fabricante que tipo de produto ele deseja consumir e o que ele não tolera nesse processo. Ele é a razão de ser daquele produto, portanto, tem poder de determinar caminhos.
        A Asta me encanta nesses aspectos, pois reúne todas essas qualidades, do começo ao fim. Os tecidos usados nos produtos seriam jogados no lixo e, nas mãos dos artesãos, ganham vida outra vez em peças que encantam pelo colorido e pela criatividade. As garrafas pet, outro item que normalmente descartamos sem pensar duas vezes, também adquirem novas funções que surpreendem quem está acostumado a vê-las como meros receptáculos de líquidos.
        A mão de obra, artesãos de comunidades carentes do Rio de Janeiro, tem visto sua vida mudar depois da Asta, que, com suas centenas de conselheiras divulgando os produtos por meio de catálogo, gera um volume de produção que lhe permite aumentar a renda e ganhar em qualidade de vida. Isso sem falar na autoestima, que fica lá em cima com tantos incentivos e elogios de um público que só faz crescer.
        A produção é artesanal e, na maioria das vezes, mobiliza famílias inteiras para que o volume de encomendas seja entregue. Cada peça é única, não só por ser feita à mão, mas, como os tecidos são doados, as estampas também são sempre diferentes. Cada costura, cada trama, cada forração, cada mosaico deixa à mostra a habilidade, a dedicação, a criatividade e o poder de transformação que fizeram com que cada artesão fosse escolhido para integrar e continuar ampliando essa crescente corrente do bem.













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terça-feira, 10 de abril de 2012

A chuva

        De repente tive a impressão de ter ouvido um barulho de chuva fininha lá fora. Era engano. A chuva caía dentro de mim.
        Se fosse lá fora seria mais fácil. Eu poderia escolher a hora de correr para a chuva e a hora de me esconder. Mas eu não consigo fugir da chuva que cai dentro de mim.



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terça-feira, 27 de março de 2012

Encontrinho bom

        Encontrinho bom é aquele que deixa muito em nós. Assim são os encontros no show room da Asta, em Laranjeiras: empolgantes, inspiradores, instigantes, cheios de produtos diferenciados e gente interessada em fazer a diferença. Definitivamente, a vibe da Asta é contagiante.


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domingo, 18 de março de 2012

O dia seguinte

        Copos com um dedinho de água na mesinha de centro; guardanapos sobre os pratos com farelo de rosca de chocolate que uma amiga gentilíssima trouxe de presente para o lanche; no braço do sofá, o folder de uma peça que um amigo recomendou; DVD que a outra amiga deixou para aquela horinha de folga disputando espaço com os vidrinhos de óleos essenciais. Recordações de uma noite boa, entre curtas, risadas e projetos de futuros passeios. Objetos espalhados de uma casa de verdade, com vida, pulsante, dinâmica, que tem história para contar. Visão que faz sorrir. Vontade de repetir.
        Na casa da capa de revista é proibido se esparramar no sofá, tirar as almofadas do lugar, desfazer os rolinhos de toalhas meticulosamente arrumados no banheiro, fazer guerra de travesseiro, correr e pular. A casa da capa de revista é linda, mas assim, sem um alfinete fora do lugar para manter o clima impecável para a foto, não tem alma. Porque vida de verdade é bagunçada, atropelada, imperfeita, ruidosa e linda, como essa visão do dia seguinte.



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quinta-feira, 8 de março de 2012

Minha homenagem aos homens no Dia Internacional da Mulher

        Contrariando todas as expectativas, vou aproveitar para escrever sobre os homens que contribuem para tornar mais plena a vida das mulheres.
        Aos homens que são pais e mães ao mesmo tempo, por falta/negligência da companheira.
        Aos homens que são pais tão presentes quanto suas companheiras.
        Aos homens que dão flores em datas não especiais porque reconhecem que têm ao seu lado mulheres especiais.
        Aos homens que ganham flores como homenagem por serem especiais.
        Aos homens que usam a força em prol de suas mulheres.
        Aos homens que não se sentem mais fracos quando revelam suas fraquezas.
        Aos homens que usam o lado menino para divertir as mulheres e o lado homem para encantá-las.
        Aos homens que sabem cuidar e se deixam cuidar.
        Aos homens inesquecíveis cujo lugar ninguém jamais conseguirá ocupar.
        A todos os homens adoráveis e dignos de admiração, a minha sincera homenagem.



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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Para minha mãe, onde ela estiver

         Mãe,
        desde pequena você me ensinou que a única coisa certa na vida era a morte. Que eu precisava me preparar, pois um dia você ia ter que ir embora, como todos nós teremos que ir um dia. Você me ensinou quase tudo o que eu sei. E o que eu não sabia eu sempre pude perguntar. Você sempre tinha resposta.
        Sabe, acabei de receber um e-mail de uma pessoa da qual você gostava muito que diz assim:

"Já tem alguns dias que tenho tido sonhos com você e sua mãe, por isso que estou te mandando esse e-mail. No sonho ela dizia que sentia muito sua falta e me pedia pra ir até você e te dizer isso."

        Sabe o que mais dói? Não poder te responder. Ter perguntas e não poder ouvir suas respostas. Não poder te dar um longo abraço, depois dar um beijo na sua testa e dizer o quanto eu te amo. Não poder sentir tuas mãos enrolando os cachinhos do meu cabelo. Não poder mais passar madrugadas gargalhando com as maiores bobagens ou desabafando os segredos mais impublicáveis. Não poder te ligar para contar como vai a vida. Não poder sentir o cheiro do perfume de rosas que você usava depois do banho exalando da sua pele, cheiro que eu, carinhosamente, chamava de cheiro de mãe. Não poder te contar os meus planos. Não poder ouvir seus conselhos. Eu nunca mais vou poder te ouvir. Eu nunca mais vou poder te ver. Você nunca mais vai poder me ler. Mesmo assim, mãe, eu precisava te falar todas essas coisas. E, como não há mais os seus incansáveis ouvidos de mãe, eu tive que colocar a minha saudade no papel. Espero que, mesmo sem poder me ler, você possa sentir o imenso amor e gratidão que sempre existirão em mim.



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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

"A gente sai diferente do teatro e do cinema. Sai outra pessoa."

        O que inspirou esse post foi a recente frase de uma amiga que tem compartilhado comigo o prazer de ir ao teatro. "A gente sai diferente do teatro e do cinema. Sai outra pessoa" - disse ela.
        Que poder mágico é esse que nos envolve, nos subtrai a realidade e, quando nos devolve, sempre nos encontramos modificados?
        A arte tem o poder de ampliar nosso mundo interior. O mundo interior e a arte são indissociáveis. É o mundo interior que cria e alimenta a arte. E o mundo interior é onde a arte ecoa. Sem ele a arte não tem propósito; é uma sala vazia.
        Quando esse mundo interior é terreno onde a arte quase não pisa, o encontro com a arte se dá de maneira extasiante, arrebatadora, como a experiência de se ver o mar pela primeira vez; quando se trata de um mundo interior em que a arte transita com intimidade, cada encontro com a arte vai enriquecendo o encontro anterior, pois mais material há para reflexão.
        Por falar em teatro e em experiências transformadoras, assisti recentemente no CCBB à peça Breu e não me saiu da cabeça uma frase. Depois de ser encorajada pela personagem cega a dar alguns passos de olhos fechados, a outra personagem diz: "Eu nunca vou sentir o que você está sentindo".
        Ao término do espetáculo, é emocionante ver que a excelente atriz Kelzy Ecard, de tão imersa na cegueira da personagem, mostra dificuldade em acostumar de novo a vista à claridade na hora de receber os aplausos do público.
        Outra peça, também no CCBB, A Mecânica das Borboletas, com atuação marcante de Otto Jr., aborda a contradição que convive em nós, pois "somos todos capazes, ora de desejar perambular mundo afora sem eira nem beira, ora de ter uma casa, de ter filhos e constituir família". E, instigando a reflexão, fica a espera pela borboleta, a derradeira peça que vai, finalmente, permitir a realização de um sonho.
        Por último, uma peça para a reflexão sobre o casamento: Amor Confesso. A peça começa com um diálogo com o público e vai, aos poucos, revelando a versatilidade dos atores. Ambos fazem papel de homem e de mulher e encarnam tipos bem diferentes, como um caipira e uma mulata. Quanto ao cenário, eles conseguem com duas simples cadeiras — as únicas peças móveis do cenário — todas as espécies de arranjos possíveis.
        Para encerrar esse post, digo que acredito, por toda a sua magnitude e caráter de experiência "pessoal e intransferível", que o encontro com a arte também tenha o poder de promover o tão desejado autoconhecimento. E, se o principal problema do "desencontro" for financeiro, aproveito para dizer que a peça Amor Confesso é gratuita e que as outras duas custam 6 reais cada.
        Então, um bom encontro a vocês!

        *Dedico esse post à minha amiga Claudia Ramos, autora da frase.



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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Enxergando no escuro

        Xi, de repente acabou a luz. Resta a luz da tela do laptop, que estava com a bateria carregada.
        E o que há de tão grandioso na ausência de luz elétrica? Quatro sentidos, que não a visão, esperando sua grande chance para o papel de ator principal.
        Desempenhar qualquer tarefa cotidiana sem luz pode parecer, em um primeiro momento, o mesmo que voltar a usar máquina de escrever ou ligar para casa de um orelhão com ficha. A verdade é que a luz norteia quase todas as nossas atividades e, justamente por isso, sua ausência pode ser uma boa oportunidade para melhor explorar os outros sentidos.
        Quando acabou a luz, meus passos se viram ansiosos por um paliativo para uma simulação da vida normal. Mas minha disposição para, à luz de velas, dar continuidade à rotina era pouca ou nenhuma. Então, resolvi dispensar a vela. E a escuridão dessa última hora me fez aprender algumas lições: quando os frascos de shampoo e condicionador são idênticos, você pode perceber a diferença pelo cheiro e, se seu nariz não ajudar, as texturas não deixam dúvida; separar as roupas por tipos em uma hora dessas faz com que você não precise tatear todo o armário em busca de uma peça; lembrar que existe um tapete no caminho pode fazer a diferença entre continuar com o seu dedo mindinho intacto ou não; meu paladar sabe a diferença entre leite integral e desnatado; meus dedos (não treinados pelos antigos cursos de datilografia) não negam fogo diante de um teclado, pois batalharam (bem trôpegos, é verdade) procurando o caminho para eu escrever esse post.
        Então, ah, que pena, voltou a luz...



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domingo, 1 de janeiro de 2012

Resoluções de Ano Novo

        Tão tradicionais quanto usar roupa branca na passagem do ano, ir à praia oferecer flores a Yemanjá e lançar mão de tudo o que se ouviu dizer que pode dar sorte no ano que chega são as resoluções de ano novo.
        Essa divisão do tempo em dias, meses e anos sempre foi usada para nos dar novo fôlego e alimentar nossas esperanças quanto ao futuro: amanhã eu começo a dieta, mês que vem eu me matriculo no curso de inglês, ano que vem eu consigo fazer aquela tão sonhada viagem... E, assim, vamos dividindo nossos sonhos e metas pelo calendário.
        Quantas resoluções de ano novo são anotadas e quantas realmente se concretizam?
        A tentativa de atrelar nossos desejos de realização pessoal ao relógio pode ser uma grande armadilha em vez de um auxílio disciplinar. O tempo do calendário independe do nosso tempo de vida, sonhos e expectativas. O tempo do calendário nos ignorará solenemente para o resto da vida. O tempo do calendário desconhece o tempo que mais nos importa: o tempo interno.
        Vincular nossas realizações ao tempo do calendário muitas vezes implica em desconsiderar nosso tempo interno. E o tempo certo é quando o tempo das coisas e o nosso tempo interno se encontram.
        Criar mil listas de livros, filmes, cursos e atividades a cumprir e chegar ao fim do ano com todos os checkboxes marcados pode significar persistência e disciplina, mas é preciso tomar cuidado para que isso não seja resultado de inflexibilidade, para que não acarrete em pouco tempo para reflexão, poucos momentos contemplativos, pouco espaço para deixar-se levar pela vida, para ser arrebatado pelo novo, inesperado e inusitado. Se o seu calendário de ano novo estiver completamente preenchido, seu ano não terá espaço suficiente para ser tão novo assim.





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