quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ausência x falta

        Sem dúvida, o que de melhor ouvi essa semana foi o seguinte: "Drummond fala sobre ausência e falta. A falta é o que você nunca teve e te deixa um buraco; ausência é o que você teve e já te preencheu."
        Graças a esse brilhante comentário da minha querida Dora, fui tentar achar o que Drummond fala sobre isso. Eis o poema, que deixo com um beijo de agradecimento à Dora por ter feito nascer esse post:

Ausência (Carlos Drummond de Andrade)

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/ausencia/


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Não saber (lembrete para mim mesma)

        Sabe quando você não sabe? Se ainda não sabe, o tempo vai te fazer saber. O tempo sempre faz. Às vezes ainda não deu tempo de o tempo te fazer saber, sabe?



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terça-feira, 29 de maio de 2012

"Um dia triste toda fragilidade incide"

        Hoje vai ficar para sempre como a pior data da minha vida, mãe. Faz exatamente um ano que você foi embora. Isso me faz pensar de onde tudo vem e para onde tudo vai, em como as coisas se transformam e em como a gente precisa se reinventar para lidar com certas coisas.
        Talvez até esse momento apenas umas duas ou três pessoas saibam onde ficaram as suas cinzas. Na época, todos tentaram me convencer de que, sem sombra de dúvida, o lugar certo era o jardim da casa que você tanto amou e da qual cuidou com todo o carinho por 20 anos. Muita gente me ligou, não perguntando, mas afirmando que qualquer outro lugar deveria ficar fora de cogitação.
        A decisão final cabia a mim, e somente a mim. Diante de tanta pressão e responsabilidade, apelei para a minha intuição. Em um primeiro momento, esse local também parecera óbvio, mas eu tinha medo de que, no dia em que eu não pudesse mais atravessar aquele portão, perdesse o acesso ao lugar onde ficaram as suas cinzas e não pudesse visitar o local quando quisesse prestar uma homenagem. E a minha intuição me levou para um lugar lindo, que você costumava frequentar com alegria: a Floresta da Tijuca.
        Como eu não tinha pensado nisso antes? Depois de uma rápida lembrança dos momentos felizes que passamos ali, ficou muito claro: aquele era o lugar certo. Mas todas as outras pessoas tinham tanta certeza de que o lugar certo para as suas cinzas era na sua casa que ninguém nunca me perguntou se foi lá que eu as coloquei, no final das contas.
        É, você foi levada pelo vento no alto de uma cachoeira, cercada por dezenas de espécies de plantas, ao canto dos passarinhos cruzando a imensidão de um céu como testemunha. Cortando o ambiente repleto de sons apenas da natureza, tudo que se ouviu no último momento de contato com o que havia sobrado de tangível de você, foi: "Voa, minha mãe, voa!"
        Sem mais caminhos que nos unissem fisicamente, era o que eu podia te desejar de melhor: a liberdade. De dores, sofrimentos, desilusões, arrependimentos e de todas as inevitáveis agruras da vida terrena.
        E você voou diante dos meus olhos, mãe, em milhares de partículas que, em poucos minutos, pousaram nos arbustos, nas árvores, nas flores, na água e nas pedras da cachoeira. Ali, mãe, você virou planta, água e flor, unindo o seu ciclo ao ciclo delas.
        Foi o melhor que eu pude fazer no final da vida para quem me deu a vida, e para quem uma vida de verdade era morar no mato, cuidar de plantas, cachorros e se esquecer da civilização para poder desfrutar das alegrias de estar cercado pela natureza.


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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Domingo legal


        Comemorações especiais merecem locais escolhidos a dedo. Mas as opções na cidade são tantas que confesso ficar meio perdida na hora de sugerir um local. Felizmente, tem sempre alguém para nos ajudar nessa tarefa, e uma boa sugestão pode render um dia memorável. Foi o que aconteceu recentemente. A sugestão da vez foi o Fiorino, na Tijuca, que encanta pela excelente comida e pelo clima aconchegante e cuidado em todos os detalhes.
        Segundo informações do site do próprio restaurante, "o Fiorino é membro da Accademia Gastronomica Italiana, sediada em Bologna (capital da Emilia-Romagna) e da Accademia Italiana della Cucina. Bologna é a capital da Emilia-Romagna, uma das regiões gastronômicas mais ricas da Itália. É a cidade natal das massas frescas feitas com farinha e ovos e estendidas a mão. Massas como lasagne, tagliatelle, ravioli, garganelle, tagliolini, cappelletti, tortelli e tortellini traduzem a fama mundial de sua gastronomia."
        O Fiorino fica aberto durante a semana só para o jantar, mas, no domingo, geralmente dia de almoço em família, dá para curtir a comida, o ambiente e a família de maneira especial.
        Compartilho com vocês as boas recordações desse dia, mostrando em fotos a beleza do local e dos pratos.











Tagliateli al Mare i Monti

Roselline Romagnole

O Fiorino fica na Av. Heitor Beltrão, 126. E, no domingo, abre às 12h.



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domingo, 27 de maio de 2012

Eventos surpresa

        Ganhei um convite da querida Bruna para o show da banda Los Hermanos no dia do evento e, agradecendo o carinho e a gentileza, resolvi escrever um pouquinho e postar algumas fotos do show.
        Minha sensação foi exatamente a da frase que surgiu do palco: "Lindo ver vocês daqui". Eu não tinha aquele mesmo campo de visão, obviamente, mas, de onde se olhasse, não dava para discordar. A Fundição estava realmente esplêndida, lotada por uma plateia que acompanhava as letras com devoção. Lindo de ver e de ouvir.
        Uma coisa que me deixa muito feliz é ser tomada de súbito por um(a) amigo(a), assim no meio do dia, assim tarde da noite, mesmo se eu já estiver de pijama, para um show, uma peça, um filme, um pastel no Bar do Adão, um sanduíche de queijo brie com damasco, um café ou simplesmente um evento que eu teria perdido se não fosse a gentileza do convite de alguém próximo, trazendo de presente uma experiência surpresa.
         Deixar-se conduzir, como na dança, saindo do programado, jogando tudo para o alto, é sentir novas emoções, permitir-se, descobrir-se e descobrir o outro. É como uma súbita rajada de vento no verão ou aquela onda inesperada que te molha inteira e te refresca quando você tinha planejado se molhar até o pescoço só para continuar com o cabelo penteado.
















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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ampliando a corrente

        Em tempos em que sustentabilidade é a palavra de ordem, não basta saber, tem que colocar em prática. Tenho visto muita gente que já tem como hábito separar o lixo, economizar água — nesse quesito, muitos filhos estão reeducando os pais com as informações que recebem na escola —, descartar pilhas e óleo de cozinha nos locais apropriados, deixar mais o carro na garagem, dando prioridade a outros meios de transporte, inclusive a bicicleta, ser mais seletiva na hora de consumir. Dos livros, das revistas, das campanhas na TV, as palavras vão virando ação nas empresas, nos lares, nas ruas.
        Tão importante quanto reduzir o consumo é consumir de maneira consciente, procurando saber mais detalhes dos produtos, como, por exemplo, a origem, a mão de obra utilizada e o processo de produção. Você gostaria de saber que um produto que comprou utilizou madeira certificada, assim como não gostaria de saber que ele foi feito com mão de obra escrava e que o seu processo de fabricação é muito mais nocivo ao meio ambiente do que você imaginava.
        Como uma mãe que ensina o filho a tomar banho, escovar os dentes e dar bom dia, o consumidor ensina ao fabricante que tipo de produto ele deseja consumir e o que ele não tolera nesse processo. Ele é a razão de ser daquele produto, portanto, tem poder de determinar caminhos.
        A Asta me encanta nesses aspectos, pois reúne todas essas qualidades, do começo ao fim. Os tecidos usados nos produtos seriam jogados no lixo e, nas mãos dos artesãos, ganham vida outra vez em peças que encantam pelo colorido e pela criatividade. As garrafas pet, outro item que normalmente descartamos sem pensar duas vezes, também adquirem novas funções que surpreendem quem está acostumado a vê-las como meros receptáculos de líquidos.
        A mão de obra, artesãos de comunidades carentes do Rio de Janeiro, tem visto sua vida mudar depois da Asta, que, com suas centenas de conselheiras divulgando os produtos por meio de catálogo, gera um volume de produção que lhe permite aumentar a renda e ganhar em qualidade de vida. Isso sem falar na autoestima, que fica lá em cima com tantos incentivos e elogios de um público que só faz crescer.
        A produção é artesanal e, na maioria das vezes, mobiliza famílias inteiras para que o volume de encomendas seja entregue. Cada peça é única, não só por ser feita à mão, mas, como os tecidos são doados, as estampas também são sempre diferentes. Cada costura, cada trama, cada forração, cada mosaico deixa à mostra a habilidade, a dedicação, a criatividade e o poder de transformação que fizeram com que cada artesão fosse escolhido para integrar e continuar ampliando essa crescente corrente do bem.













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